Idealizada nos Estados Unidos, a comemoração do Dia das Mães surgiu com uma homenagem póstuma a Ann Jarvis, uma importante ativista desse país que atuou fornecendo alimentos e suprimentos aos combatentes da Guerra de Secessão. E, com o cessar fogo, dedicou-se intensamente à pacificação das famílias e grupos que, ante à polarização ideológica da época, brigaram entre si. Nesse movimento de paz, juntamente com outras mães, idealizou o Mother’s Friendship Day (Dia das Mães pela Amizade), um dia de atividades em família pela paz na região. Essa data (segundo domingo de maio), após a morte de Ann, inspirou o Dia das Mães em vários países do mundo. O Brasil instituiu essa comemoração no ano de 1932, por meio do Decreto n. 21.366, assinado pelo presidente Getúlio Vargas.
Se homenagear as mães surgiu por meio de um ato de união, assertivo é ponderar que a figura da mãe – dentro de sua incontestável universalidade – é ponto único de convergência de seus filhos. Toda mãe encerra dentro de si os ciclos de origem, destino e partida dos seus, sendo o mais seguro de todos os portos de sua prole. No colo de mãe, todo rebento tem a certeza de que está totalmente protegido de qualquer adversidade que o mundo lhe possa expor. Apenas um abraço de nossas mães carrega em si o poder de estabelecer uma verdadeira redoma e nos blindar, ainda que por instantes, de todas as preocupações que nos afetam. E essa sensação é experimentada pela ciência.
O cientista britânico John Bowlby, tendo com base a Psicanálise, desenvolveu um importante estudo que explica a transcendental relação que une as mães aos seus filhos. Trata-se da Teoria do Apego, a qual demonstra a indissolúvel confiança que os filhos depositam em suas mães, enxergando nelas uma figura de vinculação que carregarão por toda a vida. Na mesma via, a recepção da mãe está sempre ligada aos braços repletos de carinho e aos abraços acolhedores, em qualquer situação, dentro de uma interação comandada pelo amor mais puro e perene que pode existir.
Eu, particularmente, considero minha mãe como a pessoa que me esculpiu. E não há sentido hiperbólico na escolha dessa expressão. Até acho modesta, em se tratando do significado e importância de minha mãe em minha vida. Desde o período gestacional, fora obrigada a permanecer em repouso absoluto após o quinto mês, diante do iminente risco de aborto. Segurando-me antes mesmo de nascer, mamãe é minha gigante de 1,65 que me ensinou a escrever, a andar de bicicletas, a dirigir, tendo me levado à escola, à Igreja e à devoção a Nossa Senhora.
Desde criança até meus hodiernos 40 anos, sempre entendi que um ser humano é o reflexo de todos que participaram de sua formação. Mesmo sendo filho único, jamais teria o egoísmo de atribuir meu crescimento exclusivamente a mim. Ao contrário, compartilho com todos aqueles que, generosamente, fizeram parte de cada uma das conquistas que pude experimentar nesse tempo de vida. Entretanto, considero minha mãe como tão protagonista quanto eu. Realmente e, sem nenhuma demagogia, eu não consigo enxergar minha biografia sem a presença ativa, constante e permanente de minha mãe. E isso me orgulha profundamente.
Seja pela importância agregadora de Ann, pelo apego das mães de Bowlby, ou simplesmente pela intransitividade do amor pleno, que nada exige em troca, fato é que ter mãe é uma dádiva de Deus. São verdadeiros seres celestiais, dotados de uma sabedoria que reside exatamente no incrível dom da maternidade. Ensinamentos que, volta e meia, discordamos, é verdade. Mas basta uma pequena (ou grande) porção de tempo para entendermos que estão certos e que essa sabedoria materna, mesmo muitas vezes sem lastro na ciência, sempre tem razão.
Por fim, juntamente com as minhas homenagens e meu afetuoso abraço em todas as mães, deixo uma reflexão sobre o tema. Nem toda a academia, com suas fundamentadas teses, é capaz de desvendar ou, muito menos, superar a sabedoria dada às mulheres agraciadas pela maternidade. Se a ciência busca na impessoalidade seu esteio referencial, nossas mães são as maiores especialistas nos seus respectivos corpus, objetos de estudos: nós, seus filhos, suas eternas crianças.
Autor:
Prof. Dr. Marcelo Henrique de Carvalho
Editor-Chefe